...Conduzido a uma sala, fizeram-me sentar na cadeira
atrás da escrivaninha, de modo a ocupar o lugar central, cercado por mais de
uma dezena de policiais. Meu sono esvaía-se numa aflição nervosa, o raciocínio
misturava-se na cabeça, enquanto eles trocavam comentários em voz baixa, davam
risadinhas sarcásticas, sem me dirigir a palavra. Pouco depois, entrou um homem
baixo que julguei ter visto em algum lugar. Moreno, cabelos pretos ralos
recuados sobre a testa larga, barriga proeminente, trajava terno escuro e camisa de colarinho sem gravata. Numa reação
mecânica, os policiais se perfilaram, duros, calados, sérios, enquanto o
cidadão de meia-idade postou-se à minha frente, o umbigo encostado à mesa.