Era um dia de
sol maravilhoso. O mar estava calmo, as gaivotas passavam em voo rasante curiosas
com aquela estrutura gigantesca e cheia de gente barulhenta que deslizava
majestosamente sobre a água.
Os bares e os restaurantes mais pareciam shoppings em época de fim de ano. Uns malhavam seus corpos na academia (que não era pequena), outros curtiam um som ao vivo num dos cinco bares que existia abordo. Alguns se refrescavam na piscina ou relaxavam nos chuveiros de água morna. Mais a maioria mesmo se aglomerava ao redor de um vão na área aberta entre os bares e a piscina, um lugar muito espaçoso, mas que nessa hora do dia como de costume ficava pequeno.
Era
uma das atrações mais esperadas do cruzeiro. É que todos os dias,
religiosamente no mesmo horário, um sujeito no mínimo hilário se apresentava
num show de humor que, na opinião de seu público, era de “se mijar de rir”. Um
camarada bombado vestindo roupas de “patricinha colegial” e que fazia piada
com tudo que via e com o que não via também. Ele cantava, dançava com a
tripulação e fazia homens, mulheres e crianças participarem das mais engraçadas
situações. Todos gostavam e aplaudiam, pois mesmo em suas brincadeiras, jamais
aquele “gaiato” desrespeitara alguém.
Foi
quando de repente num desses dias de show, um passageiro, que segurava uma
caneca de chop, resolveu encarnar no artista. Era um dos passageiros novos que
embarcara um dia antes em salvador.
- Não me lembro desse camarada
quando saímos do Rio. Pensei comigo, enquanto ele gritava e chamava a atenção
pra si:
- Bichona! Fala direito. Gritava
o inconveniente.
- Num sabe falar que nem homem
não?
- Ai que engraçado, tô morrendo
de rir!
- Ridículo, ninguém quer saber
não! Isso durou horas. Ele se divertia com seus dois amigos.
Aí nosso amigo humorista, usando
o pretexto do show e não suportando mais as provocações, falou no microfone sem
fio que usava:
- Desce aqui bebê, vem brincar
com agente. Notava-se o ar de vingança em suas palavras. Talvez todos desejassem
que alguém calasse a boca daquele ser irritante.
Ele desceu (pois se encontrava no
deck superior debruçado na grade).
- Fale Nem, qual é a sua graça?
Perguntou o humorista.
- É CRaúdio! disse ele.
- Diga uma coisa pra gente, você
terminou o segundo grau?
- Qual o seu grau de instrução?
Perguntou logo em seguida mesmo sem querer resposta.
Sem que o rapaz dissesse coisa
alguma o artista vingativo disse:
- Gente! Ele só tem o primário,
gente.
Os risos ainda tímidos eram
ouvidos. O rapaz com a expressão desesperada dizia:
- Não, não, eu não falei isso!
Mas ninguém o ouvia pois o microfone estava em poder de seu engraçado rival.
- Me diga uma coisa analfabeto,
tu trabalha?
- Sim. Respondeu tímido.
- Ele conseguiu arrumar emprego
gente! Que legal.
- Trabalha em quê meu amor?
Perguntou com uma voz engraçada.
Eu não sei o ele respondeu, mas a
informação que o humorista deu foi:
- Pessoal, vejam só. Ele tira
Xerox, meu deus!
- quanto é uma Xerox, 0,15
centavos? O público gargalhava.
- Gente quem quiser tirar uma
cópia é só procurar o gordinho aqui tá.
Degustando aquele momento, o
piadista vingativo continuou:
- Meu querido, dá pra viver como
tirador de Xerox? Como você conseguiu compra a passagem pra um cruzeiro. Você é
um herói!
De repente ele simula um cochicho.
E exclama:
- Gente ele ganhou uma promoção
de dois dias no navio, olha só!
A essa altura o rapaz estava no
chão.
Ora, partindo
do principio que um cruzeiro é uma coisa cara e que muitas pessoas ali tinham bons empregos tipo: Prefeitos, empresários, médicos, etc (exceto eu, pois
demorei dez meses pra pagar essa viagem), alguém que ganhe salário mínimo
ficaria no mínimo desconfortável ao ser exposto.
Bom,
o resultado: o rapaz impertinente inventou uma desculpa e saiu de fininho sem
olhar pra traz. Aquele homem alegre, irreverente, zuador e que tentava diminuir
o profissional do humor no início, não tinha onde colocar o rosto envergonhado.
Foi humilhado na frente de quase mil pessoas. Teve sua vida exposta. Agora ele
não pode enganar ninguém, todos o conhecem. Ele não soube chegar. Chegou
diminuindo os outros, por isso foi humilhado.
Consideremos
os outros superiores a nós mesmos. (Fl 2.3-11)
Vai
chegar? Então não venha por cima!
Eduardo Alexandre
Este 'Gaiato' teve uma grande lição, pena que aprendeu tarde e de forma humilhante, que não se deve desdenhar o seu próximo. Ai me vem uma pergunta: Será que os líderes religiosos, Pastores, Padres, Apóstolos, outros Guias, não tem tratado o povo com o mesmo desdenho, achando o povo incapaz de discernir? Ou a culpa é realmente do povo por aceitar tudo o seus Líderes dizem?
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